sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pensamento mínimo sobre o triste carnaval


Dia 17 de agosto eu e o Ruan apresentamos três músicas do Ruan no Sarau Literário do Direito. Eu fui um figurante em meio às canções tristemente carnavalescas do garoto.

Alguns dias antes da apresentação, o Ruan me recebeu na casa dele com um mate. Lá ele me mostrou as músicas e enquanto eu ouvia, fui escrevendo pequenos textículos para cada uma delas. Agora, com o lançamento do livro na feira do livro, ele disponibilizou o áudio das músicas tocadas por ele ao violão.
Aqui estão as músicas e os textos que fiz naquela tarde de agosto para cada uma delas:

#1 – Despertador
o relógio.
o despertador e o despertar.
o pop, a vanguarda sulista resguardada. o nylon e as cordas sem teorias. caindo livres, coxilha abaixo, aos sussurros. o sincopado. o tic e o tac nervosos e tranquilos. a respiração como um anticlímax. o diálogo temporário. a pergunta e a resposta em mesmas - não meras - palavras.
a composição, o relógio vocal estrutural.
antes do relógio desfazer o tempo.
incessante despertador.
Ouça aqui: Despertador


#2 – Em Cores
o querer dos quereres. canção ensolarada, gravada em pleno inverno augustino. as posses e os achismos solitários de quem quer e sonha. não, – e às vezes sim - obstante. O que espera além das ladeiras de Salvador, Maranhão ou um porto no equador. Inventa carnavais em outros lugares. um lugar mais colorido. uma cura para um vazio em pleno carnaval. solitário como os acordes.
quem é essa moça? não sabemos, mas ele se desfaz da poeira acumulada dos dias passados, naqueles ônibus ultrapassados, que ligam rotinas em rotinas.
Ouça aqui: Em Cores

#3 – Nó de Corda
carnaval no engarrafamento. carnaval no coração de uma criança.
o mundo inteiro para, mesmo com a liberdade da amplitude das ruas e dos sonhos, nunca ficar cansado de brincar.
fugindo do tom. de mansinho.
como uma ciranda em pleno asfalto.
arte com fogos de artifício. verdade anti-ficcional, pela licença poética dos sonhos no imaginário lúdico do bloco.  infância, os sonhos e o primeiro amor. Sentimento - ainda - incompreendido.
Ouça aqui: Nó de Corda

terça-feira, 31 de julho de 2012

Pensamento mínimo sobre Chapecó

O oeste tarda mas não falha
Em mais de 400 milhas costuro minha malha
Pela estrada afora
A desbravar universos
Desenvolvendo diálogos
Envolvendo palavras
E o futuro é o ocaso dos acasos
Na cidade fria
Dos corações chapados

Pensamento mínimo sobre Fito Páez

Esse texto foi publicado na edição impressa e digital do Diário Popular nesta terça-feira, 31 de julho. É uma opinião-comentário sobre o show do Fito Páez em Porto Alegre, que cobri no último domingo. Também fiz as fotos. Dale!
      "No último domingo, a turnê brasileira do argentino Fito Páez teve seu encerramento em plena capital gaúcha. Depois de passar por Curitiba e São Paulo, o que se viu em Porto Alegre foi um show longo, onde o músico apresentou um desfile de canções pop beirando à perfeição.
      A abertura ficou a cargo da gaúcha Laura Finocchiaro, que trouxe consigo um percussionista e o baixista Celso Pixinga. Em um show pocket high tech, ela mostrou canções com verve eletrônica e cheias de texturas, enquanto o público aguardava ansiosamente pelo início do show do argentino.

      A primeira parte do show de Fito Páez foi dedicada ao repertório do disco El amor después del amor, que neste ano completa 20 anos de seu lançamento. O disco é um marco na carreira de Fito e do rock argentino, sendo um dos álbuns mais vendidos do gênero no país. O disco foi apresentado na íntegra, na mesma ordem do CD. Começando com uma poderosa versão para a canção homônima que abre o disco, passando por uma execução furiosa de Tráfico por KátmanduSasha, Sissí y el Círculo de Baba, e encerrando com Brillante sobre el Mic e A rodar mi vida.

      Fito Páez está inserido no panteão dos grandes compositores argentinos. Seu show não é apenas feito de meras canções, e sim, de hits inseridos no inconsciente coletivo da cultura platense pós-ditadura e guerra das Malvinas. A apresentação passa por uma verdadeira revisão sobre o rock feito às margens do Rio da Prata, onde, à frente do palco, encontra-se Fito Páez, um símbolo que traduz várias gerações de argentinos, com todos os problemas econômicos atuais, até reflexões sobre a era Menem. Mas em alguns momentos, a revisão musical torna-se reflexão. No telão, em Pétalo de sal, a participação especial de Luis Alberto Spinetta, um dos heróis do rock argentino, morto em decorrência de um câncer em fevereiro deste ano. Em La rueda mágica, o gênio Charly Garcia e Andrés Calamaro. 

      Após a execução do disco na íntegra, da metade para o fim, Fito pareceu mais empolgado e confortável ao interagir mais com o público e dedicando séries de improvisos atrás do majestoso piano negro de cauda. A base rocker de baixo-guitarra-bateria, combinava com dois tecladistas e uma bela backing vocal, sintetizando a cama perfeita onde o argentino deitava ao executar os brilhantes solos ao piano.
      A segunda parte do show foi reservada a clássicos como as belíssimas 11 y 6 e Dar es darCirco beat foi cantada em uníssono pelo público que encheu mais da metade do Pepsi On Stage. Além de versões violentas de Naturaleza sangre e Ciudad de pobres corazones.

      Ao fim do espetáculo, Fito não precisa provar mais nada. Mesmo assim, Mariposa tecknicolor foi a escolhida para o encerramento de um show histórico, feito por um gênio simbólico."

Setlist


Primeira parte:
El Amor Después del Amor
Dos Días en la Vida
La Verónica
Tráfico por Katmandú
Pétalo de Sal
Sasha, Sissi y el Círculo de Baba
Un Vestido y un Amor
Tumbas de la Gloria
La Rueda Mágica
Creo
Detrás del Muro de los Lamentos
Balada de Donna Helena
Brillante Sobre el Mic
A Rodar Mi Vida


Segunda parte:
La La La
Cadáver Exquisito
11 y 6
Circo Beat
Naturaleza Sangre
Al Lado del Camino
Polaroid de Locura Ordinaria
Ciudad de Pobres Corazones
Track Track
Y Dale Alegría a mi Corazón
Vaca Profana
Dar Es Dar
Mariposa Tecknicolor

domingo, 15 de julho de 2012

Pensamento mínimo para outros sentidos


O pensamento mínimo serve também para relembrar. 
Expor ou expandir sentidos. 
Um passado não ultrapassado. 
Sabe quando tu acordas com uma coisa na cabeça? 
Uma idéia, uma melodia, uma vontade de dizer algumas coisas.
Ou com a cabeça vazia mesmo, pensando na menina dos olhos, no café que esfria ou na esperança da confirmação da notícia do voo Pelotas-São Paulo.
Expressar, expremer, imprimir.
Foi assim nos dias 24 de março e 24 de junho de 2012.

"Latejo, calço a calça e um coração
No encalço de um Girassol
Teu passado ultrapassado se foi
Em profusões de sentimentos rasos
Não olhe mais para trás
Atrás desses amores
Cansados"

"24 de março, começo de um outono morno
Como o café na minha mesa, me desfaço do verão
Pela praça eu vaguei e divaguei sobre os termômetros
E os pontos de ônibus
Quero ir embora daqui
Pras coisas que eu nunca vi
E ir
Mas vou deixar a porta aberta pro frio entrar pelo sul
Só espero aquele voo Azul de abril
Augusta-Alberto Rosa"

Pensamento mínimo pelo fim de julho


Nasci no inverno.
28 de julho, seis da manhã.
Sou filho do vapor.
Tenho o coração encharcado de almas.
Onde as almas estão encharcadas de sereno.
Sou um estado de espírito livre.
Sinto o vento gélido como uma lâmina.
Tenho o frio e todas as cores que margeiam as estradas.
Nado em paralelepípedos.
As estrelas escorrem pelos telhados.
Enquanto os cheiros das lareiras e dos fogões invadem as ruas.
O frio coagula no meu sangue.
Me prostra.
Me torna disforme.
E o vento longínquo leva e traz sobras do interior.
O frio já é uma extensão dos meus sonhos.
Só de ver a terra, já sinto o gosto.
E o vinho.
Sempre o vinho.
Em meio ao amargor de um rio e uma lagoa doce.
O mate ronca no meu peito e retumba pelas praças.
Enquanto eu penso nas palavras.
Emudeço o verbo.
E canto pelos canteiros.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pensamento mínimo pela utilidade das palavras


A Utilidade das Palavras

Vamos salvar os búfalos
E o pensamento também
Das idéias com reserva antecipada
Das certezas pré-gravadas
Vampos salvar o homem das risadas
E das legendas douradas da Sony
Vamos salvar os búfalos
De Bills e Bushes
Gates, Norman Bates
Vamos poupar o instante
Da ética protestante
Do sacramento do kitsch
Vamos salvar o pensamento
De alianças com carrascos
E casamentos com carrancas
Que na voz que o mundo te arranca
Vale é o tanto quanto lavras
A utilidade das palavras
O resto todo é protesto
Como pretexto para um profile
Um todo que não faz parte
Onde a hipocrisa é uma arte
E a honestidade is a bitch

Pensamento mínimo ao Ilustre Desconhecido


Um ilustre desconhecido
A vontade midiática. O reconhecimento. O rosto estampado. O nome grafado. A aura mística.
Andy Warhol dizia que em um futuro próximo, todos teriam pelo menos 15 minutos de fama. Qual o desejo por trás da intenção? De onde vem a vontade pela fama?
O trabalho do jornalista é ouvir as fontes. Pesquisar e pintar com as próprias cores o retrato mais fidedigno possível de uma versão da realidade para levar ao leitor. Nesta caminhada, o repórter utiliza vários artefatos, lê, vê e ouve várias versões de um mesmo fato. O repórter precisa ter amplo conhecimento sobre as mais diversas áreas da sociedade e da cultura. E o conhecimento vem da leitura. Mas não estou falando do livro que você está lendo nessa semana, e sim, da leitura que vem desde as aulas da terceira série do ensino fundamental. Aquelas aulas de história e geografia, o português, a biologia e as teorias da matemática. Toda e qualquer leitura é válida e necessária. Em um olhar semiótico, fora do texto não há salvação. Mas daí, partimos para a interpretação.
Frustração explícita. O músico argentino Charly Garcia é o autor da frase: “me haré famoso, o tristemente célebre”. Existem pessoas que acham que o mundo gira ao redor delas. Pessoas que se acham famosas, mas que na verdade são tristemente célebres no meio em que frequentam. É triste querer um reconhecimento que não existe, forçado através da exposição por meio de uma mentira midiática. Como se não houvessem outras fontes ou histórias possíveis fora do próprio umbigo.
Os historiadores fazem um trabalho sensacional. Eles trazem à tona e registram histórias que já existiam. É um trabalho fundamental para compreensão do que somos. A antropologia explica a antropofagia. E explica a fama? Explica a dor de cabeça?
Ah, a pena. Mas não se preocupem. No futuro toda gente será famosa durante quinze minutos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pensamento mínimo ao Tupiniquin

Em junho de 2010, Jorge Sampaio Tupiniquin iniciava as gravações do álbum. As sessões começaram em seu próprio estúdio La Casa de Musica e terminaram no Totem, em São Paulo. Ao todo, foram gravadas 17 canções, e 10 escolhidas para esse álbum que levou dois anos para ser concluído. O tempo foi o necessário para criar a atmosfera que permeia o disco. Unindo forças aos produtores Dustan Gallas e Rian Baptista (Cidadão Instigado), o músico conseguiu chegar a uma sonoridade original remetendo ao pop retrô com doses de psicodelia.

        Atmosfera solar noturna
Lançado em junho de 2012, o álbum é um convite a um passeio pelo Sol em pleno frio. Aliás, o Sol é o tema constante presente no disco em letras e arranjos. Na faixa de abertura Grávida, que deu origem ao primeiro clipe extraído do disco, o cantor fala do amor através do sexo. Ambientada pela atmosfera exótica dos derbakes e cítaras gravadas pelas duas participações especiais do álbum: Bruno Buarque e Regis Damasceno. Mesmo sendo escolhida como primeira música de trabalho do disco, a canção não representa o que vem pela frente.
Na segunda faixa, Soldados do Sol – uma das melhores músicas do álbum – Tupiniquin sai para a noite embalado pelo baixo de Rian Baptista. Quando Dustan Gallas assume as guitarras, Tupiniquin descreve um momento noturno dançante e místico. “Toda noite eu vou andar na lua, e amar será a melhor forma de cura”. A música é entremeada com um belo riff “e a mágica (margem) é maior a cada curva” até acabar em um slow rock.
A terceira faixa, Amor, coragem é a música mais rocker do álbum, e surge da parceria com Billy Comodoro e Dustan Gallas. Aliás, Tupi & The Nickins foi a banda criada para ampliar os horizontes sonoros e de arranjos do disco. E nesse aspecto, o trabalho de Dustan Gallas foi fundamental.
Gallas possui no currículo a versatilidade de trabalhos com o Cidadão Instigado, Luccas Santana e Gal Costa, por exemplo. Tendo participado também da gravação do último compacto lançado em vinil pelo gaúcho Júpiter Maçã em 2011. Na divulgação do single Modern kid, Gallas fez breve passagem por Pelotas como guitarrista, acompanhando o gaúcho em um show em 2009 na antiga Original Beer. No trabalho de Tupiniquin, ele é o responsável pelas guitarras pulsantes, versáteis e minimalistas indispensáveis ao disco.
        Estrada contemporânea independente 
A partir da quarta faixa, o Sol chega pleno. A cantora Juliana R. dá em Acácia amarela o toque charmoso que a música exibe. Com toques da nova MPB em dueto, a música possui também um arranjo bastante minimalista. A ótima Tropical punk é um convite ao voo psicodélico em um ar de moderno com o “coração eletrificado”.
Em A roda lunar a percussão surge como ode a yemanjá e com a presença constante da guitarra, tudo em tom psicodélico. Já Pés descalços é singela, com uma linda levada no piano e doce melodia vocal. “Ah, se eu pudesse navegar. E se puder, vou te levar para ver flores em alto mar. Não digam que eu não devo ir e não sinta medo de si. Eternos jovens vamos ser”.
A oitava música que compõe o álbum é Sagittarius, com uma genial pitada soul. A próxima é a faixa que dá nome ao disco. Onde as mudanças de ritmo dão o tom da América do Sol.
No final, uma das melhores músicas do álbum. Casa na praia é uma balada pop com batida ensolarada. “Ouvindo o vento soprar”, desenhando um verão em pleno inverno. Com 55 minutos de duração, o álbum composto por Tupiniquin é plural. Com um belo trabalho de produção independente. Contemporâneo, exótico, antigo, moderno e místico.

O DISCO PODE SER BAIXADO DE GRAÇA EM www.tupiniquin.com

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Um olhar ao pensamento mínimo.

Olhar é olhar. É ver você mesmo. Ver o ambiente em que se vive. Utilizar os olhos. Ampliar a percepção através de pequenos órgãos para ver o infinito. Olhar é ver as coisas que o mundo apresenta e proporciona. A definição da imagem depende do jeito de quem olha. E é justamente um jeito, uma definição de olhar que está exposta no Centro Comercial Artes e Ofício, em Pelotas. O olhar de quem chega de fora e vê o que os pelotenses parecem não enxergar. O que o cotidiano parece ter apagado pelo costume. Um olhar de volta para a cidade. Como um presente para ser admirado. Quantas vezes deixamos de ver? O mesmo trajeto nunca é o mesmo caminho.
   Esse post é só uma explanação sobre a mostra fotográfica Um olhar forasteiro, que reúne uma visão de Pelotas sob a ótica de cinco fotógrafos rio-grandinos. A exposição foi pauta da minha matéria publicada hoje no Diário Popular. Através das lentes, o olhar quase nu de Aldivo Mendes, Freddy Bages, J.C. Celmer, João Paulo Ceglinski e João Reguffe expõe os traços da cidade que completa 200 anos.
A proprietária da galeria Mirar e curadora da mostra, Norma Alves disse que os fotógrafos foram selecionados pela Secretaria de Cultura de Rio Grande. Aceito o convite, os profissionais retrataram a cidade há cerca de 15 dias, iluminados pelos tons do outono regional.
O outono é demais. As melhores estações são as intermediárias. Ao todo são 25 fotografias expostas até o dia 21 de julho. E vale a pena conferir o trabalho deles o quanto antes. Mas vá com calma. Vá quando puder. Observe o caminho. Respire. Elas estão expostas durante um mês. Vá.
Dê uma chance ao pensamento mínimo. Antes cedo do que tarde, mas antes tarde do que nunca. O que importa é olhar, seja com os olhos ou com o coração.